Felipe Araujo, 22 anos, está de bem com a vida. Mas nem sempre foi assim. Há quatro anos, o jovem que mora em Redenção do Pará descobriu que havia contraído o vírus HIV e ficou com uma forte depressão. Felipe saiu do emprego, parou de estudar e só pensava quando iria morrer. "Eu estava ruim de saúde e procurei o hospital, fiz alguns exames, um desses exames foi o teste de HIV, a psicóloga estava com o resultado e me chamou na sala e sem querer eu vi o resultado na folha, naquele momento eu não ouvia nada, não enxergava nada, não sentia nem meu corpo", contou o jovem.
Após descobrir que estava com HIV Felipe foi imediatamente refazer o exame em uma clínica particular e confirmou resultado. “Eu pensava que poderia ter tido alguma falha, ainda estava com um pouco de esperança. Então, lembro que aquele momento foi muito ruim, jamais imaginaria que poderia acontecer comigo. Eu me isolei do mundo, não quis dividir isso com ninguém, apenas com o meu companheiro. O primeiro ano foi uma fase muito ruim, uma fase eu preferir ficar só”, explicou Felipe.
Após um tempo de isolamento Felipe resolveu buscar informações sobre a doença, foi tentar entender o que não entendia direito. Em seguida comunicou sua família, voltou a estudar e trabalhar e conheceu várias pessoas. “Eu achava que era um bicho de mil cabeças. Hoje eu vivo a vida muito feliz. Sou apaixonado por tudo e por todos. No inicio eu tinha preconceito comigo mesmo. Eu aprendi a me amar da forma que eu sou e também aprendi a dá valor à vida e as pessoas. Hoje eu me amo loucamente”, brincou o jovem.
“Cada dia que amanhece eu agradeço a Deus, cada segundo é importante e agradeço. Tudo isso serviu para eu valorizar cada segundo que eu tenho. Fico feliz de ter sido diagnosticado bem no início, sem precisar ter tomado nenhum soro. Graças a Deus muita coisa mudou, a medicina avançou. Antes eu tomava quatro comprimidos diferentes por dia, agora eles uniram em um só medicamento e hoje tomo apenas um comprimido. Sofria muito também com os efeitos colaterais. Hoje não sinto nada”, comemorou Felipe Mauro.
A psicóloga que acompanha Felipe ajudou a conhecer outras pessoas que passavam pela mesma situação que ele e deu o contato de um amigo que faz parte da Rede Jovens + Pará. “Esse amigo também era soro positivo, o que facilitou muito, pois ele entedia tudo que eu estava passando. Quando entrei em contato com ele na mesma hora, sem saber de onde eu vinha, ele me acolheu, contou sua experiência e tirou minhas dúvidas. Através dele eu fui melhorando e passei também a integrar o grupo. Aquele mundo escuro que eu vivia e imaginava era bobeira. Por causa dessa ajuda, hoje estou muito melhor”, relatou.
Atualmente o jovem faz o mesmo trabalho. Ajuda jovens que se encontram em sua mesma situação inicial. Felipe também realiza todo mês uma reunião de prevenção em seu município. “É uma turma pequena, mas fazemos o possível para mais pessoas participarem. O que eu posso fazer eu faço. Faço visita nos hospitais, já passei por momentos difíceis, já perdi amigos, mas também já vi amigos se recuperarem através de mim. Fico feliz quando meus amigos melhoram através de mim. Hoje eu também acompanho vários jovens e já faço parte da Rede Jovens + Pará quase três anos e aprendo todos os dias”, contou.
“Faço tratamento direitinho, minha saúde está ótima, eu não perdi peso e estou muito bem. A minha maior felicidade foi saber que eu tenho uma família maravilhosa, achava que poderiam me dar às costas. Minha mãe sempre me acompanha nas minhas consultas, tenho um irmão ainda adolescente que explico para ele a importância da proteção, do sexo seguro. Conheci pessoas maravilhosas, sou rodeado de pessoas”, Comemorou o jovem.
Para o Felipe, a informação é à base de tudo. A pessoa que é informada dificilmente terá preconceito. “Tinha pessoas que me perguntava se podia bater as minhas roupas juntas com as de outras. Tem gente que não quer pegar na mão, não quer abraçar. Tem esses mitos bobos, que não tem na a ver. E vejo que isso está mudando, pois a informação é tudo. No meu caso aonde chego às pessoas me cumprimentam e me abraçam mesmo sabendo que sou soro positivo, nunca me senti rejeitado em nenhum lugar. Então, no meu ponto de vista esses mitos e preconceitos estão sumindo, comemorou.
“Antes eu tinha preconceito comigo mesmo. Hoje não. Falo naturalmente sem nenhum problema. Eu amadureci muito com esse desafio que apareceu na minha vida. Eu tive que aceitar. Eu tinha que encarar. A única alternativa que eu tinha era encarar. Eu tinha que enfrentar era eu ou eu. Eu superei e fui meu próprio professor. Hoje me sinto muito mais forte, não é qualquer chuva, tempestade pequena que vai me derrubar”, afirmou Felipe.