quinta-feira, 19 de outubro de 2017

VELHA INFÂNCIA

Não quero adultos nem chatos.Quero-os metade infância e outra metade velhice! Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.( Oscar Wilde)

   

O modo de se viver transforma-se com passar do tempo, o “Belo”, ou seja, a maneira com que a pessoa admira determinada coisa, não é o mesmo de anos, décadas e séculos atrás. Todo conceito de moral, arte, música, produtos vem tendo concepções diferentes a cada passagem de estação. O que os escultores antigos diriam se vissem uma privada em cima de uma mesa, em uma exposição de arte? Ou os músicos clássicos ao se deparar com o “lepo, lepo”? Ou um escritor antigo ao se deparar com o twitter?

Enfim, hoje a massa não se ver sem a internet (o seu belo), o que para os antigos seria algo assustador. Tanto a arte; como a música; como os meios de comunicação a cada dia passam por um processo de “inovação”. Será que o belo atualmente em todos os aspectos são produtivos como antes? Estamos avançando na tecnologia e regredindo nos valores relacionais e sociais? A massificação do belo gerou uma padronização da cultura para todas as idades e classes.

A Industria infantil

Antigamente pensava-se praticamente no público adulto, porém hoje em dia todos os públicos são alvo da doutrina consumista. Do bebê ao idoso, o importante é vender para a massa. Isso consequentemente vem mudando todo o conceito de beleza do mundo. Hoje, sem as ideologias; sem os questionamentos; sem olhar sensível, o dinheiro tem sido o belo da sociedade.

Pouco se fala da concepção de belo para as crianças, afinal elas por um bom tempo eram insignificantes para a “sociedade”. Antes eram olhadas exclusivamente pelos seus pais. Eles que mostravam a beleza dos valores . Era um tempo, em que o belo era semeado de geração para geração.  Tudo isso acontecia até chegar à padronização da estética. Detalhe, o produto para esta doutrina não é apenas o que se pode ser feito nas fábricas, mas tudo mesmo tornou-se produto, até o próprio ser humano.

Então, o capitalismo voltou os olhos também para as crianças. Elas vêm sofrendo mutações de valores constantemente e são nelas que se devem colocar todas as preocupações. Afinal, o futuro depende muito do que são no presente e que formação possuem. Com a cobrança do mercado e as enormes diferenças sociais, a família não agrega tantos valores como antes. Os pais não possuem tempo como antigamente. Não mudou apenas a concepção de belo na sociedade, mas principalmente o sistema e a maneira de se viver.

Os produtos infantis não se diferem aos demais padrões de beleza que o sistema vem promovendo. É o famoso belo pregado pelo modelo atual (capitalismo), ou seja, extremamente consumista e egocêntrico. Sim, de fato, as crianças também entraram no mundo louco do consumo. De uma maneira drástica, o mundo infantil está se transformando. Com essa transformação toda sociedade sofre e altera-se também. Não é à toa que se ver tanta violência em adolescentes a crianças atualmente.


Nostalgia
Antigamente o belo para as crianças, eram as brincadeiras de rua com os amigos. Não existia uma mídia que influenciasse como hoje. Muitas nem possuíam televisão, sendo assim, as crianças usavam sua imaginação e criavam a sua própria beleza. Era o tempo dos barquinhos de papel, revolver de madeira para brincar do famoso "policia e ladrão". As bonecas de pano na maioria das vezes eram feitas pelas mães e eram as melhores. Tinham até as bolas de papel para jogar futebol, quando a de plástico furava, ou até garrafa de Pitchula com areia.  Enfim, a molecada se divertia, brincando na rua, sem produtos caros ou de marca, pois a diversão não estava no valor material e sim na própria brincadeira.

Na velha infância, tinham muitas brincadeiras saudosas, hô e que saudades, não apenas de brincar, mas de ver essas brincadeiras com outras crianças. Bandeirinha; taco-bol, queimada, pula-corda, pipa e por aí vai. Engraçado, era quando passava um adulto na rua, e a molecada dizia "parou, parou, deixa o tio passar". Hoje em dia, quando é que alguém se depara frequentemente com crianças brincando na rua? Vale lembrar que até a classe baixa está aderindo à tecnologia.

A falta de recursos não era barreira para se divertir.   Não precisava de uma alta tecnologia para ser feliz, pois bastava à criatividade da meninada com um toque de simplicidade. O belo era a amizade recheada de diversão, não importando com o que, apenas se brincava e era feliz. Nada atrapalhava a criatividade da criançada.   Uma época de grandes ideias para se brincar e as amizades inseparáveis no "mundo real", eram as melhores, as inesquecíveis.

A cidade não era violenta e não havia muros nos quintais.  Os pais deixavam suas crianças brincarem sem medo da violência. A vida da criança era estudar e brincar, com toda inocência que antes existia. Não havia inveja entre si, e nem a ganância de comprar o brinquedo ou produto da ultima geração para ser melhor que o colega. A competitividade não existia e sim o companheirismo, pois a simplicidade é ser feliz com o que tem e saber que o mais valioso na vida não tem preço. Olhando as crianças atuais, não se vê a felicidade da naturalidade.

A liberdade e a simplicidade era o belo de uma época não muito distante.  Havia muitas brincadeiras de rodas, dentre outras brincadeiras que não precisava de produtos caros para se sentir realizado. Realmente, não é uma época distante que a explosão da televisão e outras tecnologias mudaram a concepção de belo nas crianças.   Uma época em que bastava ganhar uma boneca ou uma bola no dia das crianças que a molecada dava pulos de alegria. Uma época em que, apesar do capitalismo já existir não contaminava as crianças, pois as mesmas não possuíam a ideia do consumismo desequilibrado.

Antes bastava desenhar no chão e com algumas pedrinhas se brincava a tão famosa amarelinha.  A maioria dos produtos infantis era desse jeito, com a própria imaginação e com os simples recursos da época. O belo para as crianças era correr muito com as brincadeiras de rua.  Correr até cansar, brincar até anoitecer. Agora, os brinquedos já veem prontos das lojas.   As crianças não precisam mais forçar sua mente,  muito menos ter trabalho manual para isso, pois a fábrica infantil se encarrega de tudo.

O belo padronizado
O que vemos hoje? As bonecas são perfeitas, que idealizam um padrão de beleza que não existe na realidade. Consequentemente, tornam as meninas complexadas, buscando sempre ser igual à Barbie, Susi etc. As bonecas, sempre loirinhas de cabelos lisos, de olhos azuis. Aí se pergunta: Qual menina vai querer ter uma filha moreninha, se brincou a infância toda com bonecas branquinhas? Estão inserindo bonecas morenas, ruivas no mercado; entretanto ainda é algo muito primário, a estética já foi inserida nas meninas, que na adolescência alisam e pintam os cabelos, compram lentes azuis.

Os bonecos são aqueles dos desenhos animados violentos, o que por sinal incentivam brincadeiras violentas entre os meninos, o que futuramente gera a violência. Afinal, todos sabem que o momento principal da formação do indivíduo é a infância. Tudo que a criança ver, é absorvido por ela. Eis o perigo e a responsabilidades dos pais nesta formação. Por isso muitos não entendem o motivo de seus filhos serem tão rebeldes.

Chegou para as crianças o "belo mundo virtual", que tira a infância real . Elas passaram a se trancar em quatro paredes, para ter "amiguinhos virtuais", tornando-as precoces tirando sua inocência e essência infantil. As crianças não usam mais sua criatividade e energia para se divertirem.  As mudanças nesses produtos tornaram as crianças mais violentas e aéreas da realidade.  Crianças com depressão, obesas por comerem pouco.   As guloseimas que aparecem na televisão, também são atrativas para elas e ficar sentado na frente de um computador, não gasta energia e muito menos perde peso.

Triste consequência

Hoje as crianças estão cedo no mundo das drogas e da criminalidade, o que antigamente era difícil de existir.   Antes os pequenos infratores eram aqueles que moravam na rua, roubavam para comer, não tinha casa, família e a educação.    Um adolescente que tem tudo para ser de bem, tem casa família; se mete na criminalidade, apenas por influência, por desejar o "belo" da atualidade.  É a famosa ostentação. 

Toda aquela simplicidade, não faz mais sentido no mundo contemporâneo.   Infelizmente a beleza para crianças, é simplesmente o que se passa para elas.    Não que seja sua culpa, mas a sociedade mudou e junto com ela as tecnologias, e junto com ela a mentalidade das crianças. Antigamente não se importava com o que as crianças brincavam, eram invisíveis, eram apenas crianças sem poder de decisão.    Mas os capitalistas viram nelas uma fonte de lucros e realmente conseguiram o sucesso nas indústrias de produtos infantis.    Em que geram fortunas com os novos Playstation, tabletes, brinquedos e computadores.

As tecnologias passaram a interessar o meio infantil, entretanto as atitudes das crianças mudaram também.    Atualmente é mais difícil criar um filho com tantas inovações e com um consumismo descarado. O desejo dos pequeninos pelo aparelho da ultima geração; a necessidade de trocar o seu brinquedo antigo pelo mais atual e tecnológico saiu do controle e do orçamento.     Como se o antigo fosse careta e o simples fosse sinônimo de pobreza.

As desigualdades que esses produtos promovem no meio infantil são extremamente absurdas, pois nem todos podem comprar o que estar na moda. Com tantos produtos infantis, com preços exorbitantes os pais se desesperam nas despesas. Brincar agora se tornou bem caro. O belo nos produtos infantis mudou em pouco tempo. Com isso, a geração atual também mudou e a futura consequentemente mudará.     Isso ocorre, de acordo com a transformação que a sociedade sofre, é inevitável. Ao mudar os valores uma série de questões se alterarão.

É a lei da física, “toda ação há uma reação”, tudo que muda têm a sua consequência. Todos os valores morais; a inocência que era o mérito dos pequeninos; hoje não é mais.    Não adianta um pai criar de uma maneira e a televisão; o computador; o vídeo game criarem de outra. Crianças que brincam de violência como nos desenhos serão adultos violentos; crianças que pulam etapas se entretendo apenas no mundo virtual; serão adultos maliciosos.

As indústrias poderiam ter essa percepção e mudar o belo nos produtos infantis.  Fazer voltar os tempos da inocência e oferecer produtos de acordo com suas idades. O mundo agradeceria, pois ele precisa de gerações honestas, puras, sem ganância e violência. Todos esses aspectos começam na infância para perdurar na fase adulta. Mas é claro que hoje é algo impossível, pois o ter é mais importante que o ser. O que governa o mundo é o dinheiro, mesmo que  destrua com toda uma sociedade. O certo,  é que feliz foi aquele que quando criança conheceu outra visão de belo, nas suas brincadeiras simples e inesquecíveis.




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