Não nascemos prontos. Esta é a frase que frequentemente está na minha mente. Nós erramos e convivemos com erros dos outros. Mas seguir em frente é o caminho.
E independente do que aconteça: é vida que segue.
Quando olho para minha vó. Quando vejo seus cabelos brancos e as marcas da velhice imagino quantas vivência ela já passou. Quantas alegrias, tristezas, vitórias e perdas. De quantas vezes teve que seguir em frente. Ou de quantas vezes a vida seguiu, sem esperar que ela seguisse junto.
São 100 anos vivendo essa vida imprevisível. Cheia de surpresas boas e ruins. 1 de setembro de 1918. Foi a data do seu nascimento. Uau!
Quando olho para ela percebo o quanto o tempo é monstruoso e cruel com o ser humano. Ele traz os cabelos brancos, dor aqui, dor aculá, rugas, fraquezas...Sei também o quanto o tempo é bondoso. Ele traz amigos, filhos, genros, noras, netos, bisnetos e até tataranetos. Minha vó tem tudo isso.
É o milagre da vida. Ester Vasconcelos Dalmacio é um milagre. Matriarca que trouxe nas costas 4 gerações.
Me apego nas lembranças de uma vida inteira de convivência com essa venhinha durona. Lembro quando ainda nem sonhava em ser jornalista e adorava quando ela contava suas histórias.
Eu ficava imaginando "Meu Deus, minha vó viveu na era Vargas", viveu na ditadura e no tempo do Barata ( Como ela falava desse Barata)😱. Que louco isso.
Sim. 1 século deve esconder muitas histórias. Hoje ela não está tão lúcida para contar tudo que eu queria saber. Fala bem menos e me arrependo de não fuçar esse passado de 100 anos.
Mas lembro. Como lembro de histórias que me arrancaram lágrimas. Lembro que sempre gostou de contar, principalmente na hora do almoço, esses retalhos da sua longa vida...Ela foi criada por uma madrasta má. Daquelas estilo filme mesmo. Ela apanhava e trabalhava muito. Pouco falou da mãe, mas do pai pouco afeituoso e dessa madrasta cruel.😩
O que falar de quando ficou viúva com dois filhos pra cuidar? Em uma época daquela perder o marido com dois filhos não deve ser fácil. Não foi. Mas ao mesmo tempo que a vida te fere, ela as vezes de dar também um Remédio.
Lembro dela falar da dona Ornelia, a cunhada que tanto a ajudou a cuidar dos seus sobrinhos. Pq Deus envia sempre anjos, mesmo que em forma de gente pra ajudar quem precisa. Como neta não tenho propriedade pra falar muita coisa de sua história. Sei que daria um livro. Mas sei que em 100 anos foram muitos braços estendido, muitas decepções e erros também.
Ela casou novamente e vieram mais dois filhos, entre eles minha mãe (Diva). Sempre trabalhou em casa de família e se virava como podia.
Depois de alguns anos lá estava ela ficando viúva do segundo marido. Mas ela é dura na queda. Todos nós sabemos. Sempre com esse jeito forte.
É gente....
Sei que a vida da vovó não foi fácil e por isso que ela é durona desse jeito. Pense uma velhinha forte que escapou de umas e outras, que quase não vi chorar ou se desesperar por alguma coisa. E olha que já passamos por cada uma.
Só temos que agradecer por sua vida e reconhecer que essa força que vem de algum lugar, mesmo que de sua infância complicada é de tirar o chapéu. Eu particularmente agradeço por essa convivência de uma vida inteira.
Como esquecer daquele bife que só ela fazia? Como esquecer da milhões de broncas? Muitas, muitas broncas. Hahahha😂
Como esquecer de quando eu entrava tarde no quarto pensando que ela tava dormindo e no outro dia ela falava pra mamãe " Sônia a Michele entrou 1 hora".😂 Kkkkk.Essa lucidez que eu sempre agradeci. Todos nós. É uma graça. Adora fazer graça com os outros.
Eu não posso terminar o texto sem falar da minha mãe Sônia Maria: dessa filha exemplar que que sacrificou e ainda se sacrifica por ela. Quanto cuidado e dedicação! Um exemplo de como se deve tratar e cuidar de um idoso.
Hoje agradeço a Deus por ela. Pela minha mãe. Por tudo que nossa centenária representa para cada um de nós. E agradeço pelo dia de hoje, por unir a família Dalmacio nesse dia (01/09/2018)😍.