"Poucas
coisas na vida são exatas, mas de uma coisa eu tenho certeza ninguém é
unanimidade. Ao longo de nossas vidas definimos nosso caráter,
nossa personalidade e vivemos de acordo com normas e princípios no
qual adquirimos durante nossa vida. Entretanto, por mais sensatos que possamos
ser ou parecer, definitivamente não há como agradar a todos”. (autor
desconhecido)
Faço desta
frase um pouco do que pude conhecer sobre Lúcio Flávio Pinto. Embora todo o seu
caráter exemplar e sua ética profissional, ele é perseguido e odiado por
seus adversários. Porém, apesar de não agradar este grupo, acredito que a maior
parcela o considera, um dos maiores exemplos de profissional do
jornalismo. Eu o conheci desta maneira. Um jornalista cuja conduta é divulgar a
verdade. Em meio a tanta podridão da mídia, Lúcio Flávio Pinto se mantém limpo.
Que bom que existe um jornalista como ele. Que bom que existe o jornal Pessoal.
Que bom que podemos falar que ele é de Belém do Pará, um orgulho para nossa
terra.
Foi em uma
casa que mais parece uma biblioteca que entrevistei o Jornalista. Figura
polêmica, formador de opinião. Admirado por muitos pela coragem de optar por um
jornalismo integro, beneficiando a coletividade da informação. Odiado pela
elite e pelos os que a defendem, como cita na entrevista. Era o que se
esperava, respostas tão inteligente e ao mesmo tempo tão sábia desse jornalista,
com 47 anos de carreira e quase 27 anos escrevendo o seu próprio jornal.
Lúcio se destaca ao criar um jornal livre de
qualquer envolvimento com o governo e com outras empresas; um jornal sem
patrocínio. O Jornal Pessoal é livre para informar ao leitor uma verdade pura e
sem filtração. Lúcio Flávio Pinto se mostrou um jornalista de um alto
conhecimento e com algo essencial para uma entrevista: A sinceridade.
Michele
Lobo: O que você mais gosta de fazer?
Lúcio Flávio
Pinto: Bom eu gosto de trabalhar, porque o trabalho me
dar prazer, de ler e de ouvir música, são as atividades que mais me dão
prazer.
Michele Lobo: Qual a sua
maior qualidade e maior defeito?
Lúcio Flávio
Pinto: Acho que maior qualidade é querer sempre aprender, sempre disposto a descobrir
coisas novas. Maior defeito é a pressa, essa ansiedade pra fazer as coisas, que
sempre compromete a perfeição.
Michele
Lobo: O que deixa você com raiva?
Lúcio Flávio
Pinto: Muita coisa. Mas profissionalmente é ver uma informação
valiosa não está circulando na sociedade. É uma coisa que sempre me incomodou. Eu
sou jornalista, sou como um instrumento, um veículo para transferir as
informações que eu obtenho de valores sociais e que tenha importância coletiva
para a sociedade, para que ela esteja mais rapidamente possível. Porque às
vezes uma informação quando não está casada com os acontecimentos, não
acompanham os acontecimentos, ela passa ser uma informação secundária. A boa
informação é aquela que entra na agenda do dia do cidadão para que ele use a
informação como ferramenta, que é uma arma para tomar as decisões certas.
Michele
Lobo: Você tem medo de que?
Lúcio Flávio
Pinto: Que o meu medo seja maior que a minha coragem. Todos nós
seres humanos temos um componente de medo e um componente de coragem. Quando o
componente de coragem é exagerado ai vira uma condição temerária. Quando o
componente de medo é exagerado ai vira uma covardia. Então o ideal é você está
bem no meio. Nos momentos de medo, mas o medo é sufocado pela coragem, e não ir
à coragem até um ponto que chega ao suicídio.
Michele
Lobo: Banda preferida?
Lúcio Flavio Pinto: The
Beatles
Michele
Lobo: Qual sua opinião sobre as drogas?
Lúcio Flavio Pinto: Acho uma droga.
Todos os tipos de drogas. Eu nunca fumei, bebiam socialmente até 1991. Quando
eu estava na beira da piscina, eu resolvi parar de beber. Está é
uma característica da minha personalidade, tomar decisões que
mudem para uma situação melhor. Eu achava que a bebida era boa, mas me fazia
falar demais. Eu não gostava de falar demais. Eu tomava trinta xícaras de café
por dia quando estava no auge das redações na revista Veja em São Paulo. Hoje
eu tomo três. Eu acho que o caminho da vida é você procurar eliminar os
defeitos que tem e aperfeiçoar as virtudes.
Michele
Lobo: o que você faz para melhorar o mundo?
Lúcio Flavio Pinto: eu
procuro melhorar a mim mesmo. Depois a minha vinculação ao mundo. Procuro
sempre no caso do jornalismo os temas que me tornam importante para a
sociedade.
Michele
Lobo: O que levou você para o lado do jornalismo?
Lúcio Flavio Pinto: Eu não
tive problema de vocação. Porque quando minha mãe estava grávida de mim, ela
estava lendo um livro, e quando ela teve as dores do parto, ela estava na página
do centurião Lúcio Flavio, meu nome deve-se ao livro. Então a minha
relação com o livro era uterina. Meu pai foi jornalista, eu desde que me
entendo fui jornalista, participei de jornais de escolas e com 16 anos eu
entrei no jornalismo profissional. Então da mesma maneira que eu me
descobrir na água aprendi nadar em Santarém antes de eu descobrir o mundo, com
jornalismo eu também fui assim.
Michele
Lobo: Você também é sociólogo que está formação influenciou na sua
carreira profissional?
Lúcio Flávio
Pinto: Eu queria ter uma noção mais ampla das conjunturas. O jornalista
lido com as conjunturas, com os acontecimentos do dia a dia. Eu queria ter uma
compreensão maior, então fui pra sociologia e acho que optei certo. Foi muito
importante pra ter essa contextualização dos fatos.
Michele
Lobo: Você deu aula em grandes universidades, atualmente ainda há
interesse de exercer a profissão de professor?
Lúcio Flávio
Pinto: Eu dei aula nove anos na federal; e o que eu senti muito foi
que não só a atividade acadêmica e pedagógica exigia muito tempo, mas a
politicagem que existe também nas faculdades do governo. Eu estava me
desligando dos acontecimentos e estava cada vez mais confinado aos
campos universitários. Então eu resolvi parar, porque eu estava me
desatualizando. Eu gosto bastante de está em contato com as universidades, com
palestras, mas exercer a profissão de professor não mais, a não ser que eu
queira me desligar do jornalismo. Fazer bem o jornalismo do dia a dia e as
funções de faculdade exige um desgaste enorme.
Michele
Lobo: Por que deixou a grande imprensa, passando a se dedicar a um
próprio jornal?
Lúcio Flávio
Pinto: Várias vezes eu me batia com os patrões e com os editores em
relação às matérias mais polemicas, que incomodavam com anunciantes, e eles
sempre me diziam: então vai fazer um jornal, quem manda aqui é o patrão. Então
eu resolvi fazer um. Eu fiz um jornal porque simplesmente eu não
consegui publicar uma noticia que achava que tinha que publicar que foi o
assassinado de Paulo Fonteles em 1987. Se for reparar, muitas
notícias só saem no jornal pessoal, pela liberdade total. A noticia não é
fornecida a sociedade por desinformação, incompetência e até mesmo a covardia
dos jornalistas.
Michele
Lobo: Qual a importância do reconhecimento do seu trabalho através dos
seus prêmios?
Lúcio Flávio
Pinto: Desde que ganhei o prêmio ESSO em 84, resolvi não
ir atrás mais de prêmios. Até 84 eu ainda disputava alguns prêmios. Porque você
passa ser um jornalista de prêmio. Vejo muitos
jornalistas incomparavelmente mais bem premiados que eu, mas que,
utilizaram uma agenda para serem premiados. E isso é uma condicionante, às
vezes até uma limitação. Desde então os prêmios que eu tive foram sem correr
atrás, por iniciativa de alguém. É bom por que mostra que as pessoas estão
prestando atenção. Não corro mais atrás, mas se eles aparecerem e eu achar que
o prêmio é merecedor de crédito, eu acho isso muito bom.
Michele
Lobo: Sabendo que, o que move a grande imprensa é os
patrocinadores. Como sobrevive o "jornal pessoal" desde 1987?
Lúcio Flavio Pinto: Quando eu
fui para o jornal pessoal, eu tinha a principio uma ilusão. De que ele não iria
durar muito. E eu queria que ele não durasse muito, por que eu sabia o que era
fazer um jornal desse tipo. Seria um sacrifício enorme. Quando entrei para o
jornal pessoal, pedir a demissão para "O Estadão", que em respeito
aos dezoito anos que eu trabalhei ali, me deu todos os direitos. E com esse
capital eu montei o jornal pessoal. O jornal pessoal fez opção pela pobreza. E
eu fui me ajustando à pobreza do jornal.
Michele
Lobo: Levando em consideração que você tem diversos
livros dedicados à Amazônia, que envolvem vários protestos e palestras. Qual o
fruto desse trabalho? Tem efeito nesse trabalho tão necessário, mesmo essa
guerra sendo tão perigosa?
Lúcio Flávio
Pinto: Em 1978 eu estava escrevendo um artigo para uma revista em São
Paulo de arquitetura e urbanismo (TJ). Estava escrevendo um texto que falava
hectares. Uma pessoa que não tem informação não vai entender qual é a área
que corresponde a hectares. Ai parei e fiquei pensado e fui ver
dimensões. O campo de futebol tem três dimensões oficiais, eu que o menor das
dimensões era equivalente a um hectare. Ai eu escrevi em artigo de 78 que era
equivalente a um campo de futebol. De lá pra cá, todo mundo utiliza isso. E
tenho certeza que foi a primeira vez que alguém usou. Essa inovação foi a
certeza que o jornalismo não se limita a reproduzir as coisas, esta sempre se
renovando procurando novas formas de expressão para facilitar a comunicação com
o público. Isso foi uma contribuição formal.
Outra contribuição é que eu queria uma frase que diga o que é a
Amazônia, em 72 (bem antes do hectare), ai eu disse, é um “almoxarifado” do
mundo de recursos naturais. Almoxarifado do qual tudo se retira e
pouco se repõe. Então passou a ser uma frase comum. Quando você tem a percepção
viva da história, você viu aquele acontecimento, conhece o personagem, esteve
presente nos fatos, você gera um conhecimento novo. Um conhecimento que produz
uma cultura com pessoas que repetem e incorporam a interpretação. Isso pra
mim tem sido o maior resultado que eu escrevo, mas sobre tudo das palestras.
Provoco muitas discussões nas palestras, as pessoas me procuram, fazem-me
perguntas. Ouve casos de palestra é muito importante pra mim, pelo contato
direto. Uma pena que muitas das vezes o debate o tempo não permite. Prefiro
ouvir o que as pessoas querem saber. O diálogo tem sido bom pra mim que testa
meus conhecimentos e renova-o, e espero que para as pessoas também.
Michele
Lobo: Você tem noção que o seu nome é citado na faculdade como um
exemplo na profissão como você se sente sabendo disso?
Lúcio Flávio
Pinto: O mundo acadêmico está cada vez mais voltado pra dentro de
si. Cada vez mais preocupado com sua própria carreira. Eu vou pra dentro das faculdades
sabendo que de um lado tem as pessoas que me consideram como modelo. Mas o que
me interessa realmente é aqueles que ainda hoje questionam o valor da
informação jornalística. E eu sou extremamente rigoroso
com profissionais da imprensa, que acham que podem escrever sem
segurança, sem a quantidade de informações necessárias para construí
informação. Tem que ter maior rigor no jornalismo, por que às vezes é a única
referencia dos fatos. Principalmente porque o mundo acadêmico se encolheu. Eu
fico feliz quando eu vejo quer as pessoas se sentem estimuladas no jornalismo,
considerando o que eu faço. Mas minha principal tarefa e o do embate, tanto com
os poderosos quanto com aqueles que de uma forma ou de outra servem a eles.
Michele
Lobo: Apesar de ser um jornalista admirado por uma grande parcela dos
jornalistas. Você se considera sozinho nesta luta por um jornalismo íntegro,
sem qualquer envolvimento político e comercial?
Lúcio Flávio
Pinto: Não. Tem pessoas aqui e fora daqui que eu respeito muito,
que tem integridade, mesmo dentro de uma grande empresa. Porque também é uma
ilusão, achar: "porque estou dentro de uma grande empresa não posso fazer
nada". Às vezes isso ai é um "habeas corpus" preventivo para
pessoa não fazer nada. Eu por exemplo. Trabalhava no "O Liberal", e
não podia falar mal do governador que era apoiado pelo jornal. E eu tinha uma
matéria contra o governador que denunciava corrupção no governo dele. Eu adotei
uma tática. Pedir para o editor do jornal deixa uma pagina de domingo pra eu
fazer minha matéria e entreguei no ultimo momento (alegando que tinha uma
matéria bombástica), pois, o jornal de domingo tem mais assunto e por isso é
antecipado. E sumir (risos). No dia seguinte a bomba estourou, mas já estava
tudo feito. O que me dá é o seguinte: É verdade? Eu publico. Eu posso provar?
Então eu publico. Se eu não tenho segurança na verdade e se eu não posso
provar, então eu não publico.
Michele
Lobo: Você acredita que a grande imprensa, um dia, possa voltar a
seus padrões éticos?
Lúcio Flávio Pinto: Não. Acho
que melhorou em certos aspectos, mas nos padrões que um dia tivemos nunca
melhorou. Tem uma democracia falha, em que alguns têm uma capacidade de
manipulação muito maior do que a sociedade pode prevenir. É uma democracia
limitada pelo dinheiro. Na época da ditadura no AI5 começa a ditadura pra
valer, ai começa a censura à imprensa, nas redações e nessa época terrível
ninguém pode ter ditadura nas redações. Mas ao mesmo tempo as pessoas eram mais
dignas, pois nos sabíamos quem era o inimigo. Hoje o inimigo janta com agente.
Autocensura é a compra. Pessoas que recebem mais pra ficar calado, várias
formas de sedução. Hoje a autocensura é uma praga. Hoje o jornalista não quer
saber se o patrão vai impedir ou não, ele não quer se expor. Se você se deixa
vender, é porque você quer se vender. Eu não tenho problema em ser honesto, eu
sou honesto.
Michele
Lobo: O jornal pessoal tem um espaço dado ao leito. Tanto os que
concordam com o que você diz, e os que não. Qual a sensação de receber uma
carta completamente ofensiva e ter que publicar?
Lúcio Flávio
Pinto: eu poderia não publicar. A carta mais ofensiva foi mandada
pelo Hélio Gueiros (três meses depois que ele deixou o governo). A carta começa
com o palavrão mais horrível que se pode ter, e termina com o mesmo palavrão
horroroso. Foi um impacto enorme. Na época eu quis cobrar pessoalmente, e
tentei três vezes e felizmente não aconteceu. Mas eu publiquei, por que eu
posso contraditar tudo. Se eu tiver errado, eu digo estou errado, mas pra me
ofender, pra mim é muito fácil me defender. Na hora você sente um impacto
enorme, é naquela hora que você ver se é covarde ou não. Felizmente em tudo que
já passei eu nunca me comportei como uma pessoa covarde seja ao escrever, ou
seja, ao me expor publicamente nas ruas. Não sou o mais corajoso dos
homens, é por isso que eu vivo. Tenho integridade, e não abro mão disso. Não
baixo o nível. Ninguém nunca viu escrever sobre a vida intima dos Maioranas. E
eu poderia escrever. Mas quero saber o que se implica na vida da sociedade.
Então publico cartas de quem me ofendem sem problema. Minha vida é aberta, pode
dizer o que quiser não tenho nada o que esconder. O que eu falo e o que eu digo,
é o que eu faço.
Michele
Lobo: um acontecimento bem atual é belo monte. O que você tem a
dizer sobre isso?
Lúcio Flávio
Pinto: eu acompanho belo monte desde o inicio. A história de Belo Monte
começou em 1975. O grande problema é como a sociedade pode acompanhar esses
projetos, antes durante e depois. Há uma desinformação total, mesmo aqueles
grupos que tomam atitudes. Não se conhece totalmente o problema da energia,
porque ninguém dar atenção. É muito fácil ser contra ou ser a favor. Você só
pode dizer que é contra ou a favor, se conhecer. O grande problema é que os
grandes projetos vêm de fora pra dentro, se implantam com um único objetivo.
Jogar as riquezas naturais para fora. Amazônia é o grande “almoxarifado” de
energia do mundo. Os grandes investimentos no Brasil são feitos par atenderem
interesses particulares e não coletivo. E a maioria de quem é a favor ou contra
não conhece belo monte.
Michele
Lobo: quais são os seus projetos para o futuro?
Lúcio Flávio
Pinto: é continuar produzindo e escrevendo. Escrever enquanto
estiver com consciência e lucidez. Poderia ter três vidas iguais a essa e
não terminaria nunca.
Michele
Lobo: diga uma frase preferida para finalizar
Lúcio Flávio
Pinto: eu tenho um lema da minha vida é de um grande poeta alemão – “não
fazer mal a ninguém nem a si também. Eis o bem”.
Foi uma honra entrevistar pessoalmente o melhor
jornalista do norte, meu exemplo como profissional.
Publicações:
Observatório da Imprensa: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/_ed771_conversa_sobre_jornalismo_e_temas_que_estao_no_mundo
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