“Ah! Se o mundo inteiro me pudesse ouvir. Tenho muito pra contar. Dizer que aprendi”: (Tim Maia)
Como diz uma música do grande Tim Maia “Ah! Se o mundo inteiro me pudesse ouvir. Tenho muito pra contar. Dizer que aprendi”:
Muito desse aprendizado tem muito a ver com um trecho da fala de Rocky Balboa ao seu filho no filme “Rocky 4”:
"O mundo não é um mar de rosas. É um lugar ruim e asqueroso. E não importa quão durão você é; ele te deixará de joelhos e te manterá assim se permitir. Você, eu, ninguém vai bater tão forte como a vida, mas não se trata de bater forte. Se trata de quanto você aguenta apanhar e seguir em frente, o quanto você é capaz de aguentar e continuar tentando. É assim que se consegue vencer."
Vejo meus bebês (sobrinhos), e torço por dias melhores para a sociedade. Não posso ser egoísta e desejar o bem apenas para eles. Não peço que vivam em uma bolha, protegidos e mimados. Não. Muita coisa de ruim que acontece é necessário para o aprendizado. Eles, de vez em quando, precisam cair e levantar sozinhos.
Torço por uma sociedade melhor. Senti na pele muitas das mazelas que a sociedade pode causar. Não a sociedade em si, mas o que nós construímos dela. O mundo é sim um lugar ruim e asqueroso. Um lugar onde reina as desigualdades sociais.
Falando em desigualdade, ela é o que mais odeio na sociedade. É por ela que o mundo é tão asqueroso. Me intriga saber que meus sobrinhos sofram por aparências, ou qualquer outra coisa.
Em certo discurso do nosso governador (pelo qual tenho uma grande decepção, mas é ótimo na demagogia) ele disse que o que mais dói não é a pobreza, o que mais dói é a desigualdade... É uma pequena parcela de pessoas ganharem exageradamente bem e a maioria viver na grande miséria.
O governador Simão Jatene tem toda razão. É a desigualdade nosso grande problema. É o que mais dói. Lembro que passei quase toda minha vida estudando em uma escola de classe média alta. Porém nunca fui do meio. Com nove filhos nas costas, meus pais passaram por muitos apertos e nós também.
Ir para escola com vergonha de não ter o dinheiro do lanche, sem os livros didáticos exigidos, ou mochila nova no começo de ano sempre foi um problema. A gente se fecha com as diferenças. Ela dói. Ir para aula era uma angústia. Isso desde da primeira série até o segundo ano do ensino médio.
O Rêgo Barros tinha um ótimo ensino. Mas eu não tinha muitos incentivos para isso. Odiava estudar. Tinha pavor daquele mundo de classe média alta.
Foto/Site da Fab |
Passei muitas vergonhas. Desde o Sapato furado, até o uniforme desgastado. Lembro que sempre dava uma desculpa no dia que as coleguinhas marcavam para levarem suas Barbies (Eu não tinha).
O que falar no final do ano quando todos pegavam suas blusas para assinarem e eu dava meu caderno, pois não sabia se meus pais teriam condições de compra uma nova (E por muitos anos não tinham). Lembro de quando a professora me tirou da sala por falta de livro, ainda teve a votação da segunda aluna mais pobre da sala na quarta série. Sorte da que ganhou em primeiro lugar que não soube da votação. Fui muito ridicularizada pelo meu cabelo, corpo e timidez.
Odiava meu jeito, tinha vergonha do meu corpo, das minhas condições e até da minha religião. Criada em um lar evangélico tive que lidar com muita coisa.Paguei na pele por erros de muitos. Eu que sempre fui discriminada em certos pontos, como teria forças em discriminar alguém por qualquer que seja o motivo? Na vida conheci tantas pessoas diferentes. Religiões, culturas, opção sexual e até hoje tenho amigos da diversidade. Todos com espaço especial no me coração.
Não escolhemos de onde viemos, mas no caminho aprendemos o que é certo e errado; o sentido da vida; o que realmente importa, que vai mais muito além de religião. Vejo brigas por todos os lados. Conheço de perto esses lados. Eu amo pessoas desses lados. Na diversidade de pessoas que encontrei por ai aprendi a escutar todos os lados. Sempre fui tímida e calada. Ouvir e observar sempre foi um mérito meu.
Vi cristãos apedrejando, como aqueles religiosos que foram recriminados por Jesus de Nazaré, mas também levei muito preconceito por colegas e até professores que me discriminaram por isso. Na infância e adolescência somos muito do que nos é ensinado e isso não é uma escolha por muito tempo. Fico feliz de sempre tratar as pessoas como gostaria de ser tratada: com respeito.
A maior parte da minha infância e adolescência foi nesse inferno emocional. Sei que muita coisa não depende de nós. Nossas origens, nosso meio diz muito sobre quem somos e como contribuímos na construção social.
Talvez inconscientemente, sem ter visto o filme Rocky 4 segui o conselho do protagonista: lutei cara a cara com a vida. Ela me esbofeteou muito. Riu de mim. Me colocou no chão. Eu decidi o oposto do que eu era.
Comecei namorar, ainda na adolescência com um cara mega comunicativo (hoje meu esposo), o palhaço da família, da escola e de outros meios. Meu oposto. Era comum os comentários negativos. Mas já esperava por isso: a Michele não é para o Saulo.
Mas ele sempre me assumiu e nos completamos com nossos jeitos diferentes...Um amor que começou na adolescência. Um amor sem exposição, sem muitas fotos ou declarações públicas.
Já que insegurança sempre foi meu “forte” decidi por isso, eu imaginava: já pensou eu me declarar em redes sociais e depois ele me lagar por outra?
Sim. A insegurança atrapalhou muito nossa relação de idas e vindas. Mas o Saulo sempre foi muito seguro. Sabia o que queria e sempre falava em casamento.
Sempre me elogiava para os amigos. Sempre teve orgulho de mim. Sempre apoiou meus sonhos. Me dizia e ainda diz que sou linda, mesmo me achando horrível.
Na verdade não apenas ele, mas minha mãe e minha segunda mãe ( Minha irmã mais velha) sempre fizeram questão de me elogiar. Me chamavam de princesa e diziam sempre que estava linda. Sem eles saberem me ajudavam muito em minhas crises de patinho feio.
Eu, logo eu, a sonsa (sinônimos que tive que engolir), a das piores ( humm as caladas são das piores, como diz certo ditado), besta, e nomes afins que eu nem lembro escolhi Jornalismo. Comunicação? Oi? Como? Porque? Onde?
Quando me inscrevi no ProUni escolhi um curso com uma nota baixa (Nada a ver comigo, só queria passar) . Depois perguntei se poderia mudar de curso e dentre várias opções estava lá o Jornalismo.
Turminha |
Fiz Jornalismo mesmo com toda timidez e insegurança. Um tiro no escuro. Costumo dizer que o Jornalismo que me escolheu. Quem me conhece há muito tempo não acredita que escolhi comunicação. Não tem como acreditar. Nem eu acredito.
Não! O mundo não é o mar de Rosas e nos deixará de joelhos se nós permitirmos.
Decidi parar com esse medo idiota. Com essa vergonha idiota. Parar de me achar feia por causa dos outros, ou vergonha de onde venho ou quem sou. O pavor de ficar perto de gente bonita, bem vestida e rica. rsrsrs
ASCOM Defensoria Pública |
Mudei e sei que foi pra melhor. Entrei na faculdade com vontade de aprender e ser melhor. Sempre quis ser a melhor profissional, a melhor aluna. Falhei várias vezes, mas sempre tentando ser melhor. Me doar ao máximo e aprender o que precisaria aprender. E como aprendi.
Não fui e nem sou a mais comunicativa, pois têm gente que diferente da minha história teve toda uma vida de comunicação. Só eu sei como melhorei. Sei da escuridão que sair.
ASCOM Ministério Público |
Escrevo essa parte chorando. Foi lindo. Sair do casulo é maravilhoso. Não apenas em fazer o curso (que por incrível que pareça parece que foi feito pra mim), mas pela mudança que decidi fazer e fiz.
ASCOM Selo Unicef |
Que Mestres encontrei. Que amigos, colegas e conhecidos sensacionais! Virei fã de tanta gente. Chefes maravilhosos que me ensinaram muito.Feliz por conhecer até os que nem tive contato. Quantas pessoas maravilhosas, de personalidades fortes. Mulheres empoderadas. Militantes dos Direitos Humanos. Guerreiros da profissão, da vida!
Pessoas competentes que me passaram conhecimentos e boas energias para que eu sempre buscasse ser uma pessoa e profissional melhor.
Turma da Pós-graduação |
Acho que teve gente que pensava que era puxa saco de professor (rsrsrs), mas só eu sabia o quanto era maravilhoso tudo, do quanto eu os admirava e ainda os admiro. Era o meu momento de extravasar tudo que estava trancado.
Quantos entrevistados! E de todas as classes. Nossa! Lembro da minha felicidade quando um assessorado me elogiava aos meus chefes. Foi um mundo tão novo. Conversar com um defensor ou promotor, ou trabalhar no gabinete de uma secretaria. Era tudo que nunca imaginei fazer.
Do começo ao fim do curso fui entusiasmada. Chegava em casa radiante. Feliz. Pelo curso que escolhi. Pelos aprendizados. Pelas histórias lindas da profissão.
Não gente! O Jornalismo não é um mar de Rosas. Mas é a profissão dos meus sonhos. É um mundo de histórias, de personagens/pessoas, de vivências e de muita COMUNICAÇÃO. Hahahaha (Oi?)
Mas...
Em certo dia de estágio, quase no final do curso, lá estava a vida tentando me colocar de joelhos mais uma vez. No ambiente de trabalho, me disseram que não me vestia bem, que não era Boa, que meu cabelo era ruim, que o Jornalismo não combinava comigo e muitas outras coisas.
Meu mundo caiu. Um filme passou na minha cabeça. Nesses momentos só vem na cabeça as lembranças ruins, das humilhações, dos fracassos. Pensei em desistir e acreditar que não era meu mundo. Que o Jornalismo não era pra mim. Que foi idiotice minha.
E a síndrome do patinho feio voltou. Mesmo que as pessoas que falaram isso não serem jornalistas e meus chefes serem uns amores eu dei ouvido pra muita coisa. Só eu sei como mudei. Eu era mega tímida, sempre de cabeça baixa e suando frio no meio de grupos. Mas é claro que mudanças levam tempo. Eu mudo todos os dias. Sempre busco melhorar minha escrita, meu jeito. Sei muito bem o que a timidez me custou.
Lembrei o que aprendi em certa aula de psicologia: de como as pessoas enxergam as coisas. Em um copo pela metade, algumas pessoas vão dizer que está metade cheio e outras vão dizer que está metade vazio. Isso foi um tapa na cara (ainda bem que lembrei).
Passei a vida vendo o copo metade vazio. Sempre o pobre que estava pela metade, na minha visão estava metade vazio. Nunca metade cheio. Sempre com pensamentos negativos. Ai então outro filme passou na minha cabeça:
Das amigas que dividiam o lanche comigo; da professora que me dava livros do professor pra eu passar corretivo e não ficar sem; das brincadeiras de rua, poucos brinquedos com muita diversão. Lembrei de tantas mãos estendidas. Da bolsa do Prouni que consegui graças a uma boa educação. Tantas coisas boas.
Olho para o lado e vejo pessoas catando lixo pra comer. Olho para o outro e vejo crianças tendo direitos violados, mulheres sendo violentadas, espancadas; mendigos sendo acordados com jatos de água em um frio congelante.
Que ingrata eu fui. Se formos olhar para o próximo, nosso mundo faz mais sentido. Tudo muda. Passei por muitos momentos ruins sim, mas era a única coisa que conseguia ver. Cara! E teve tanta coisa boa.
Aprendi a olhar mais para o próximo, seja ele qual for, pois sei o quanto o desprezo dói. O quanto a vida é difícil. Não só pra mim. O mundo não gira ao meu redor. Me afastei de pessoas queridas por insegurança. Deixei de fazer muita coisa por insegurança. Por sempre enxergar o copo metade vazio.
Mas foi também por insegurança que hoje mais do que nunca quero ser melhor em tudo que faço. Talvez não tenha sido a melhor aluna, a melhor estagiária. Mas melhorei muito do que eu era. Nossa! E como mudei. Como melhorei.
O Jornalismo/comunicação me deu muitos presentes. Trabalhar em lugares em que aflorou minha paixão pelos Direitos Humanos, pelo ser humano. Me apaixonei por tantas outras coisas, pela arte, cultura. Passei a olhar tudo diferente, com aquele olhar de quem quer escrever tudo que vê: as belezas, as injustiças, a vida.
Hoje estou entrando em outros ciclos da vida. Recém formada em Jornalismo. Recém casada e....Cheia de projetos de vida e de profissão. Estou realizada? Sim e muito. Mas tem muita jornada pela frente.
Estou orgulhosa de tudo que venci. Realizada pelos quatro anos de curso e pelas conquistas do Jornalismo. Feliz pelos presentes que encontrei no caminho. Pela grande família (quantos sobrinhos meus Deus) que sempre tive e aumentou. Por mais uma grande família que ganhei (do marido). Aumentaram os amigos, pois músico é fogo para ter amigos, ainda mais o melhor baterista (hahaha).
Casei em um sítio, pois sempre fomos apaixonados pela natureza, pelo Pará (Tinha no nosso cardápio comidas paraenses: porco no tucupi, arroz paraense, maniçoba…hummm tinha que ter). Não casamos no gramado, pois choveu. Mas amamos a chuva paraense e depois de passar alguns dias fiquei feliz pela chuvinha de final de tarde que é a nossa cara. Tinha que chover.
Estou lembrando neste texto o quanto a caminhada foi difícil. O quanto tive que lutar com a vida que bate pesado. Mas ouçam o tio Rocky : não depende do quão forte ela bata e sim da força que temos que ter para não permanecermos caídos.
Escrevo essa história para quem ler venha ter a consciência que em meio a correria do dia temos que ter um tempo para olhar para o nosso lado e ver o próximo. A depressão está matando pessoas.
É bom brincar, mas constranger é terrível. Eu tive a sorte de ter pessoas que levantavam minha baixa autoestima. Eu também resolvi sair do casulo e enxergar o meu potencial.
Termino o textão agradecendo a todos os envolvidos neste crescimento emocional e profissional. Foram tantos os envolvidos. Tanta gente boa: família, amigos, professores, chefes, colegas de trabalho. .. Meu muito obrigada. ❤❤❤