segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Joias paraense, economia criativa que reluz

Por: Michele Lobo e Tábita Oliveira
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A produção de joias paraenses está conquistando outras fronteiras, fortalecendo a mineração do estado do Pará, que é a segunda maior do Brasil. Em reportagem especial, as fases da cadeia produtiva ficaram evidentes. O talento e conhecimento indispensáveis  de artesãos, lapidários, ourives e designers puderam ser descobertos,sem eles, a joias paraenses não seriam um diferencial, nem de beleza e nem de qualidade, para o mercado de luxo.

Joias paraenses revelam ao mundo s cultura amazônica. Foto: Site do Espaço São José Liberto

A Amazônia fascina o mundo. Seus encantos, cores, formas, comida, música, arte ainda é um diferencial aos estrangeiros. Entre todos esses fascínios, as joias paraenses vêm tomando um espaço significativo no mercado de luxo. Mais do que metais nobres, as joias carregam consigo a cultura da Amazônia. São peças produzidas com a combinação de elementos naturais, agregando-se, em diferentes proporções, metais nobres, pedras preciosas e semipreciosas.

O cuidado de cada um que faz parte da cadeia produtiva é de valorizar a cultura da região, reaproveitando da natureza o que seria descartado. A joia paraense, que fortalece a mineração do estado, que é segunda maior do Brasil. Fortalecimento mineral, criatividade e toque especial da cultura da região norte vem destacando o Pará mundo a fora. Nos últimos anos empresários paraenses participam de exposições em vários países.

Essas conquistas surgiram com o programa Polo Joalheiro, criado desde 1998, que trouxe novas expectativas no setor joalheiro do Pará, a partir das políticas públicas estaduais que injeta por ano mais de 3 milhões de reais, para fomentar o mercado. O setor é concentrado desde 2002, no espaço São José Liberto, antigo presídio, nele há a loja Universal que oferece um espaço tanto para trabalhar em projetos individuais, quanto para prestação de serviços de ourives, lapidários e outros.
Rosa Neves, diretora do Polo Joalheiro revela o diferencial das joias paraenses
Foto: Daniele Maciel

A diretora executiva do Espaço São José Liberto e do Instituto de Gemas e Joias da Amazônia (Igama), Rosa Helena Neves, destaca o compromisso que os profissionais que integram o programa Polo Joalheiro possuem pela a preservação da cultura amazônica paraense e da preservação da biodiversidade. “Antes deles pensarem no consumo, ele divulgam a nossa cultura do nosso estado, eles são elementos que fazem essa difusão, outra ponto que destaco é a qualidade e dedicação de cada profissional, são talentosos, estão sempre se capacitando. Isso faz com que o produto que eles elaboram seja de qualidade”, orgulhou-se.

Para José Fernando Gomes Júnior, presidente do Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará (Simineral), a arte das joias do Pará e suas características da Amazônia é um motivo de orgulho. "Como paraense que sou o destaque das joias me enche de orgulho e aumenta a nossa obrigação com estado e com a população, para que cada vez mais a gente mostre essa arte da Amazônia. Lá em Tucumã se faz joias paraenses e a Jequiti do Silvio Santos compra para vender para todo o Brasil. Para mim é um motivo de muito orgulho, por compreender o setor, mas também como paraense que sou", reforçou.

José Fernando Júnior, mostra os prêmios conquistados com o desempenho da
mineração do Pará. Foto: Michele Lobo
Segundo José Junior, a mineração, é o segundo elo da cadeia produtiva das joias. O primeiro elo é o da pesquisa, em que geólogos pesquisam e fazem descobertas minerais. A cada mil pesquisas uma pode se tornar uma mina, para que se possa tirar produto, ouro, níquel, ouro e ferro.

“Hoje, o Pará tem um planejamento estratégico até 2030 e as empresas devem cumprir um protocolo intenso do Estado do Pará, que devem disponibilizar um porcentual da sua produção para os artesãos para incentivar cada vez mais produzir as joias e biojoias do Polo Joalheiro e outros empreendimentos do estado”, comemorou o presidente da Simineral.

As joias paraenses também contam com apoio de programa de Internacionalização de Pequenas e Microempresas do Sebrae, em parceria com o Centro Internacional de Negócios (CIN) da Fiepa, a unidade de atendimento no Pará da Apex-Brasil e o Instituto Brasileiro de Gemas & Metais Preciosos (IBGM).



Para participar do Programa, qualquer profissional deve fazer um cadastro junto ao Polo Joalheiro. E partir daí profissionais do setor começam a ter acesso a todos os benefícios do programa, entre cursos, espaço, exposições, feiras. Porém o programa exige desses profissionais que a produção seja local, agregando o artesanal-industrial e que usem um design inspirado na cultura da Amazônia.

O espaço oferece oportunidades tanto para trabalhar em projetos individuais quanto para prestação de serviços de ourives, lapidários e outros, e por fim para a comercialização. São 44 profissionais que usam o espaço.


Cada profissional tem um contrato de consignação com o Igama. No caso das joias vendidas, 25% ficam com o Igama e do artesanato, 30%. O dinheiro que fica com o Igama acaba voltando pra os profissionais, na forma de manutenção do espaço e para trazer novos cursos. Anualmente o programa atende em média 1200 pessoas com o objetivo de que esses novos empreendedores se tornem empresários do setor.

Mineração paraense: referência para o Brasil e para o mundo

"O Pará é uma grande província mineral. Ele não é um estado é um continente. Se você pegar todos os tipos de municípios do estado. A mineração do Pará é uma referência para o Brasil e para o mundo. Só aqui é a Amazônia e as empresas filiadas fazem mineração com responsabilidade social, respeito ao meio ambiente, sustentabilidade e respeito as comunidades locais”, a satisfação é de José Fernando Gomes Júnior, presidente do Sindicato das Indústrias Minerais do Estado do Pará (Simineral).

José Fernando Júnior está à frente do Sindicato há cinco anos, para o presidente, o respeito ao meio ambiente é um avanço natural do ser humano. Há alguns tempos atrás não havia audiências públicas para instalar os projetos de mineração.



O presidente explica que hoje, para fazer o licenciamento ambiental de qualquer projeto, a Secretaria de Meio Ambiente vai ao município onde vai ser instalada a mina, ouve a sociedade, recolhe aquelas demandas, leva para a gama técnica da Semas, em seguida é feita uma discussão da área técnica. 

Depois o conselho do meio ambiente, que é um conselho heterogêneo, com a participação dos trabalhadores, Ministério Público, Ordem dos Advogados, Ong's, ente outros, que vão aprovar a licença e isso é um grande avanço na sustentabilidade”, relatou José Junior.

A mineração sempre foi uma atividade fundamental na história da humanidade. Ela é responsável pelos grandes saltos de evolução dados pelo homem, porém é comum. Além de joias, a mineração fornece vários equipamentos essenciais para a o dia a dia da população, a maioria dos aparelhos provém da mineração. Além dessas necessidades básicas, a mineração movimenta a economia, gerando emprego e renda.

No Pará, a mineração vem evoluindo e se aproximando cada vez mais da sociedade. As instalações de empresas ganham centenas de postos diretos e indiretos, além de investimento em programas sociais. O investimento e aproveitamento das mãos de obras locais são uns dos muitos compromissos que a Simineral possui com a sociedade paraense.


José Fernando ressalta que só ano passado uma empresa chinesa de mineração comprou no Pará 6 milhões de reais, o que movimenta toda a cadeia produtiva da economia local.Uma outra empresa de mineração nos últimos 3 anos só no município de Parauapebas, só de produtos pagos foi mais de 2 bilhões e cem.

“Tudo isso movimenta a economia, não só com pagamento de impostos, com compras locais, mas também com a base salarial. A remuneração dos trabalhadores da mineração é a cima da média do mercado, o que movimentai ainda mais a economia. É toda uma cadeia envolvida, que a cada 1 emprego gerado na mineração gera mais 13”, comemorou José Junior.



Veja histórias de alguns profissionais da cadeia produtiva



A paixão pela Amazônia de Marcilene Rodrigues
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Textos: Michele Lobo, Daniele Maciel, Tábita Oliveira e Soniely Farias
Produção: Daniele Maciel e Michele Lobo
Edição de vídeos: Michele Lobo e Soniely Farias
Imagens: Daniele Maciel e Michele Lobo
Infográficos: Tábita Oliveira 

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

A paixão pela Amazônia de Marcilene Rodrigues

Por: Daniele Maciel
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Artesões, ourives, lapidadores e designers fazem parte da cadeia produtiva que está por trás da produção das joias paraenses. Entre os profissionais inseridos na cadeia produtiva de Marcilene estão: Leila Salame; lapidária, Eugênio de Oliveira e Paulo Tavares; artesões e Joelson Leão; ourives, ambos citados pela designer, que admira a competência e a atuação de cada um na elaboração de uma peça.
As peças de autoria da designer ganharam visibilidade no Pará, no Brasil e no Mundo.  Foto: Daniele Maciel

De pele branca, olhos azuis e cabelos loiros a designer Marcilene Rodrigues, natural do interior de Itaituba, no oeste do Pará escreveu uma nova história a partir do encantamento pelos trabalhos manuais. Os trabalhos como psicóloga nos consultórios médicos ficaram de lado para se dedicar as biojoias, na busca de evidenciar a cultura paraense e na versatilidade que são empregadas em cada peça.

As peças de autoria da designer ganharam visibilidade no Pará, no Brasil e no Mundo. O despertar por trabalhos manuais não é algo de hoje. “Desde pequena eu sempre gostei de trabalho manual, trabalhava com artesanato e assessórios desde os quatorze anos, eu lembro quando me deram 20 reais ai eu pedi para minha mãe me levar para comprar um kit de fazer bijuteria. Nossa, pronto, me apaixonei!”, declarou.

Em 2007, iniciou o curso de ourivesaria, na escola Rahma, oferecido pelo Polo Joalheiro do Pará. Segundo Marcilene, é fundamental aprender manusear a peça pra ter noção do processo. “Vi no Polo Joalheiro, no curso, uma maneira de melhorar o meu trabalho, ai tu vais te apaixonando, tu vais vendo o conceito de biojoias diferente, porque eu trabalhava com semente, trabalhava com essas coisas, mas era aquela coisa mais biju, ai a gente muda o nosso olhar, esse olhar para a Amazônia”, afirma a designer.

Os insumos que são usados para confecção, ou seja, composição das biojoias podem ser as gemas minerais, gemas vegetais, os metais, por exemplo, o ouro; a prata e o cobre, chifres de boi e de búfalo, ossos de boi, até mesmo resíduos de madeira. Insumos da região que poderiam ser descartados no lixo, no ramo das biojoias acabam ganhando uma nova utilidade, que geram emprego e renda.

No ramo das biojoias a terceirização é algo comum, logo, os que fazem parte da cadeia produtiva tendem fornecer insumos e mão-de-obra de forma terceirizada, ou seja, tendem a montar a própria equipe que pode variar com necessidade. Nesta área a parceria é primordial para que todos tenham êxito, o designer tem que entender que nem tudo que está no papel é possível ser produzido.

Artesões, ourives, lapidadores e designers fazem parte da cadeia produtiva que está por trás da produção das biojoias. De acordo com Marcilene Rodrigues, conhecer o processo de produção das peças e importante para não puxar a orelha desnecessariamente do parceiro que faz parte da cadeia. Entre os profissionais inseridos na cadeia produtiva de Marcilene estão: Leila Salame; lapidária, Eugênio de Oliveira e Paulo Tavares; artesões e Joelson Leão; ourives, ambos citados pela designer, que admira a competência e a atuação de cada um na elaboração de uma peça.

Desde 2008 a designer participa de exposições e de feiras, no mesmo ano formalizou a marca de sua propriedade “Silabrasila Joias”. Por mais que integre o Projeto do Polo Joalheiro, nada a impede de fazer trabalhos independentes, a exemplo a marca e sua atuação no projeto “Garimpo” que reúne trabalhos de designers, em espaços cedidos por lojas que vendem biojoias, o mesmo ocorre no Polo Joalheiro, onde suas peças ficam expostas na loja Una.

Uma biojoia produzida é quase uma peça única, pois raramente uma peça é igual à outra, por ser artesanal. Logo, são produtos que demoram a ser produzidos. Para a designer, o prestígio da atividade vem ganhando força. “Reconhecimento do trabalho é saber que a gente não está dando murro em ponta de faca. Antes era um pouco desacreditado, e a gente perceber que aquilo que nós temos é muito bonito, é muito valorizado. É gostoso poder trabalhar com as coisas que te dá prazer, por estar divulgando a tua cultura", pontuou. Destacou ainda sobre a aceitabilidade das biojoias no mercado: “O Pará está redescobrindo o Pará, lá fora é uma aceitação fantástica, aqui está tendo essa redescoberta”.


A dedicação do Ourives Joelson Leão

Por: Soniely Farias 
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Joelson além de trabalhar com o metal bruto, ouro e prata, também faz a incrustação paraense. É sua especialidade. Aplica resinas da terra, um diferencial. Dependendo da joia, compra matérias de outros produtores, como gemas e madeiras. 


“Os ourives entram com o trabalho pesado na formação de uma joia, é como um engenheiro que só desenha o prédio, mas quem constrói são os peões”. O relato é de, Joelson Leão, ourives há 19 anos. Não foi difícil conversar com ele. Pessoa bem acessível, apesar da correria. De boa conversa. Estava ocupado, apareciam clientes, tinha demanda. Mesmo assim a atenção foi ótima. Houve várias paradas entre chegada de clientes e serviços. Sua entrevista aconteceu no Polo Joalheiro, o lugar onde atende e trabalha.

Joelson, além de trabalhar com o metal bruto, ouro e prata, também faz a incrustação paraense. É sua especialidade. Aplica resinas da terra, um diferencial. Dependendo da joia, compra matérias de outros produtores, como gemas e madeiras. É dedicado e gosta do que faz. Explica que o especial em suas joias são as cores. “Vai de cada um desenvolver bem o seu trabalho”. O ourives reconhece que cada um tem uma importância na cadeia produtiva de uma joia, mas na maioria das vezes o marketing e o reconhecimento moral e financeiro são dados apenas ao designer.

“O ourives não é designs de formação, mas acaba criando, redesenhando. Temos um papel fundamental com os designers e outros que participam da criação de biojoias. Temos a noção na prática, sabemos o que dá ou não pra fazer”, explica. A peça geralmente é aperfeiçoada pelos ourives. Muitas vezes o designer não tem um entendimento da execução prática da joia. Não entende as limitações. Por isso que o diferencial da joia é a construção da cadeia produtiva e a comunicação entre eles. O ourives acaba ajudando e em casos até cria. A joia acaba sendo um trabalho de equipe, onde cada um faz sua parte e essas relação é fundamental.


Joelson sustenta sua esposa e filho com a profissão de ourives. Faz parte do projeto do Polo Joalheiro e tem a sua oficina. Terceiriza seu serviço. Na sua carreia o apoio do Polo Joalheiro ajuda na estrutura, quando disponibiliza o espaço turístico.

“Apesar da taxa que temos que dar ao Polo, todo o suporte compensa, mas não tenho como depender apenas das vendas daqui”, explicou Joelson. No projeto, ele já participou de vários cursos de capacitação e suas joias são mais valorizadas por conta do espaço turístico, mas seu trabalho já tinha uma história.

Dá forma ao ouro e prata não é tarefa fácil. Uma peça dependendo de qual e, também, do nível do ourives dura em média de um a três dias. Há peças que levam uma semana para serem trabalhadas. O tempo, a prática vai acelerando o processo. Mesmo assim, não deixa de ser um trabalho que requer paciência. São várias etapas, cada um com seu grau de importância.

Para ser ourives tem que gostar, ter uma espécie de relacionamento com o metal. Joelson gosta, não trocaria de profissão, se vê como um artista, pois se inspira e cria. “O ourives é um artesão que trabalha com metal nobre, não deixa de ser uma arte”, completa Joelson.



O olhar de Leila Salame

Por: Michele Lobo
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Leila executa uma profissão rara no mercado paraense, os materiais de manuseio são caros, não vendem no Pará. O lapidário trabalha com gemas orgânicas minerais, conhecida popularmente por pedras preciosas. A pedra bruta é transformada em diversas formas e tamanhos para dar brilho nos cordões, anéis, pulseiras, braceletes e brincos. 
Turistas se encantam com joias lapidadas. Foto: Michele Lobo
A vida de quem depende exclusivamente das vendas não é fácil. Requer dedicação, paciência, contar com a competência de seu trabalho, experiência e muitas vezes com a sorte na economia. “Menina, com essa crise os negócios vão mal, tenho que pagar fornecedores, vou ter que fazer uma promoção para conseguir vender e pagar as dívidas”. A preocupação é de Leila Salame, lapidária desde 1992. Ela estava apreensiva, pois tem uma filha pra sustentar, e é mãe solteira.

Leila executa uma profissão rara no mercado paraense, os materiais de manuseio são caros, não vendem no Pará. O lapidário trabalha com gemas orgânicas minerais, conhecida popularmente por pedras preciosas. A pedra bruta é transformada em diversas formas e tamanhos para dar brilho nos cordões, anéis, pulseiras, braceletes e brincos. 

O trabalho de Leila é uma tarefa minuciosa, tem pedras minúsculas, mas bem trabalhadas. São várias etapas até o produto final, precisa das medidas certas. Leila conta que se errar com a mão tem que polir e refazer tudo de novo. “Tenho que me concentrar para lapidar uma pedra, se não perco material”, conta.

Mesmo com a correria, a lapidária conseguiu um trabalho de destaque na lapidação de gemas orgânicas. Seu principal diferencial na lapidação nacional são os traços marajoaras que caracteriza a região e embeleza uma joia. 

“Eu tenho muitas ideias para o design criativo, mas uma lapidação comum já é bem trabalhosa. Não tenho tempo pra fazer criações, testes. Tenho que pensar na produção, é meu sustento”, revela. Apesar disso, a lapidação é uma paixão para ela. Ama os materiais que utiliza, conhece detalhadamente cada um", explicou.

Como Leila é conhecida no mercado, a maiorias dos fornecedores lhe procuram para vender os minerais. Ela já tem um estoque, que facilita seu trabalho. Assim, quando aparecem as demandas, as pedras já estão disponíveis, pois nem sempre se consegue a pedra desejada. A lapidária não deixa de tocar em um assunto importante, que é a dificuldades de adquirir a matéria prima.

 “O Pará é muito rico, tem quase todos os tipos de gemas minerais, porém a exportação para o exterior é pesada. Exportam toneladas e nós ficamos com quase nada, temos dificuldades nisso”, lamenta. Ainda assim, relatando suas dificuldades Leila não pensa em outra profissão. “Se as pessoas não gostassem do meu trabalho não teria motivo pra gostar, faço com dedicação para que as pessoas gostem também”, concluiu.



A ciência de Paulo Tavares

Por: Micehe Lobo
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Na produção de joias do Pará, Paulo é um grande nome. São 15 anos de pesquisa com gemas orgânicas. Ele utiliza vegetais que seriam descartados e transforma em pigmentações, que em seguida é transformado em pedras.  Um verdadeiro cientista, conhecimento que transforma.  
Paulo Tavares é ourives e pesquisador. Promove cursos no programa Polo Joalheiro. Foto: Michele Lobo

Paulo Tavares é um idealista. Pensa na sustentabilidade. Nascido em Ponta de Pedras, teve um contato especial com a natureza. “Vivia como índio”, conta. Conversando com ele, se tira uma aula de conhecimento. É um pesquisador, um cientista. Entende de Química Orgânica, Botânica, Arqueologia, Biologia. 

Já encantada com tanto conhecimento ele mesmo pergunta. “Você vai perguntar sobre meu grau de escolaridade, não é? Todos que me entrevistam perguntam. Não tenho grau de escolaridade, estudei apenas dois anos em escola de interior”, confessou. Naquela época, no interior, a escolaridade era apenas para o voto, bastava saber escrever o nome. Sua primeira profissão foi de ourives. Geralmente não são profissionais que se dediquem ao estudo. “Todo conhecimento que tenho é do que corro atrás”, explica.

Na produção de joias do Pará, Paulo é um grande nome. A mídia nacional sempre o procura. São 15 anos de pesquisa com gemas orgânicas. Um diferencial para as joias paraenses. Ele utiliza vegetais que seriam descartados e transforma em pigmentações, que em seguida é transformado em pedras. 

“Daqui a algum tempo a maioria das gemas minerais vão acabar, não são renováveis, penso nisso, no futuro”, ressaltou, Paulo. Açaí, pimenta, jambú, urucum, mandioca, pau-brasil, pupunha, etc. Dão origem a pedras de diversas cores, que se semelha com as originais e o melhor, são renováveis.

Além da admiração pelas cores regionais, preza pelo reflorestamento e reaproveitamento de materiais orgânicos “Eu não desmato, não retiro da natureza, reaproveito, planto mudas, faço o que gosto. Se trabalhasse em um escritório de paletó, acho que nem estaria vivo” brinca.
Paulo Tavares mostra uma de suas criações, um filtro para
aproveitar água da chuva. Foto: Michele Lobo

Sua vida é dedicada à natureza. As gemas não estão voltadas ao setor comercial. Paulo também colhe materiais recicláveis, não tem vergonha do que faz. Não possui renda fixa, vive de consultoria, dos cursos que promove no Polo Joalheiro para todas as áreas de produção das biojoias. “Vendemos para os designs, mas não em escala produtiva, gasto mais com as pesquisas do que ganho,” garantiu.. Paulo vai continuar com seu sonho, de tornar o mundo mais agradável com a natureza. Deixou uma lição para nós, que apenas falamos de sustentabilidade, mas não praticamos.



A joia começa do artesanato de seu Eugênio

Por: Michele Lobo
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O mestre Eugênio, como é chamado, faz parte de um dos primeiros processos das joias paraenses, a matéria prima. Ele dá formas geniais em braceletes, anéis, brincos e colares. Usa a madeira, chifre e osso de boi. Começou a trabalhar no artesanato de joias há dezesseis anos. É artesão, escultor e faz acessórios de moda. O mercado de luxo de vários outros países conhece suas peças, mesmo sem imaginar do lugar em que ela é feita.

O Mestre Eugênio é peça fundamental da criação das joias paraense. Se orgulha de onde vem e o que representa na
cadeia produtiva. Foto: Michele Lobo


Chuva, rua deserta, perigo, medo, ansiedade. Meus passos eram apressados. Afinal, as orientações eram: “Vem pela manhã, pois à tarde, depois da chuva é perigoso”. Não contava com uma manhã chuvosa. O bairro é o Tenoné, periferia de Belém. A Rua São José Ribamar, sem saneamento, em época de chuva, muita lama. De longe, avistei uma senhora na esquina sorrindo. “Você está procurando pelo Eugênio?”. Era esposa do entrevistado, Edileuza Pinto, com quem marcamos entrevista. Seu Eugênio tem uma ótima assessora. Respondi que sim, agradecendo, claro, por me esperar na esquina. Ela estava preocupada, pois estava chovendo e eu desconhecia o lugar. Perguntei se podia bater foto da rua. “Não, guarda é perigoso”, contestou. A frente da sua casa era diferenciada, com plantas, parede ainda não rebocada, portão de madeira. Já sabia que havia animais. Afinal, antes por telefone, não tinha como não escutar o galo cantando. Se esgoelando. Edileuza entra na frente para ver se o cachorro estava preso, então chega o entrevistado.


O mestre Eugênio trabalha na ofinica improvisada da sua casa.
Foto: Michele Lobo
Eugênio Carlos de Oliveira, 57 anos, artesão. Peça fundamental na produção de joias Paraenses. Economia criativa, sucesso no Brasil e no exterior. O diferencial é justamente o trabalho feito à mão por artesãos, ourives e lapidários. Seu Eugênio faz parte de um dos primeiros processos, a matéria prima. Ele dá formas geniais em braceletes, anéis, brincos e colares. Usa a madeira, chifre e osso de boi. Começou a trabalhar no artesanato de biojoias há dezesseis anos. O mercado de luxo de vários outros países conhecem suas peças, mesmo sem ter a noção do lugar em que ela é feita.

Faz esculturas desde adolescente e sobrevive apenas do artesanato. No momento, especialmente das biojoias, terceirizando seu trabalho para a maioria dos Designs do Projeto do Polo Joalheiro, no São José Liberto. “Não pretendo ter outro tipo de trabalho, gosto do que faço”, afirma. E não houve dúvidas sobre essa afirmação. Expressava orgulho em todas as suas obras que mostrava. Fazia questão de exibir e explicar suas criações. Sua esposa ajuda no acabamento, juntamente com Adilson, que trabalha todo dia com ele.

O mestre Eugênio dá forma às matérias-primas, desenha e pinta. Um verdadeiro artista. Durante a entrevista, conheci um pouco de todos os seus trabalhos. Até um álbum de fotografias de suas peças ele me apresentou. Sensacional. Não tem como não admirar o diferencial das sua peças e de certa forma sentir orgulho, por ser um artista paraense.

Ao entrar em sua casa, conheci sua oficina, tive um choque de realidade. Deparei-me com uma oficina de estrutura mal acabada. A princípio quase uma casa abandonada. Duas tábuas ajudam atravessar para chegar a uma das partes da sua oficina. Quando chove tudo vira lama. Há uma mistura entre sua oficina e seu quintal. Comentei que ele tinha até tartaruga. “É jabuti”, corrigiu. Ele gosta do seu espaço, da natureza, já morou em São Braz. Não pretende mudar de endereço, não gosta de ir para o centro. Geralmente seus clientes que o procuram. Percebi na conversa uma autovalorização pelo seu trabalho, se orgulha do que faz e sabe da sua importância nas peças. Apesar de poucos conhecerem seu nome. Ele sabe muito bem quem é. Gosta do seu ambiente, do seu trabalho, da sua casa. Seu amor torna sua peças indispensáveis para a construção das joias.

Continuei fazendo aquela observação do espaço. A área de serviços ainda é das antigas, o antigo giral com panelas, o tanque, o chão bruto, com a chuva vira um lamaçal, galinhas por todos os lados e árvores. Do outro lado é uma espécie de depósito. De lá ele vinha com várias peças para me mostrar. Ele entende, sabe onde está peça a peça. A cada parada para admirar seu trabalho, seu Eugênio respondia minhas perguntas. Seu Eugêncio é um grande conhecedor naquilo que faz, tem a prática, anos de experiência peça fundamental, assim como um designer, ourives ou qualquer outro que faça parte da produção de uma biojoia.

“Logo que comecei com as biojoias, a Xuxa no seu auge usou uma pulseira minha, abriu a boca dizendo que comprou na França, mal sabe da onde veio. Made in Tenoné, brincou”. O artesanato de Eugênio conquistou o conceituado estilista francês Yves Saint Laurent, que sempre fazia encomendas e vendia para classe alta. Após seu falecimento sua empresa não entrou mais em contato com ele. 

Percebi com a história de seu Eugênio, o quanto nossos artistas são esquecidos por nós mesmos. Seu trabalho percorreu e ainda percorre o mundo. A valorização de um produto na maioria das vezes é dada para os conceituados de fora. É uma inspiração a história de simplicidade de um artesão que ama o que faz. É pé no chão. Sabe como as transações do mercado funcionam. O que deixava irritado, hoje não deixa mais. Eugênio de Oliveira. Grava esse nome. Mestre do artesanato. Cria peças que sai de Belém do Pará, precisamente do bairro do Tenoné, para o mundo.

São José Liberto

Março de 1998 ficou marcado na história paraense, especialmente na do Prédio São José Liberto, localizado no centro da cidade. Não tem como esquecer a cena do líder da rebelião dos presidiários, José Viana Davi, conhecido como 'Ninja' sendo jogado por um lençol pelos presos. Na época muitos horrorizados presenciavam as cenas e acompanhavam a rebelião dos presidiários que tinha vários reféns. Parentes cercavam o prédio desesperados. Na mídia local e Nacional era a manchete. Foi chocante. O governo desintegrou o prédio e o reformou. O prédio hoje é visto com outros olhos em Belém do Pará e no mundo.
Arquivo

Em 11 de outubro de 2002, o Espaço São José Liberto teve outra utilidade. O antigo presídio, agora abriga o Museu de Gemas do Pará, o Pólo Joalheiro e a Casa do Artesão. O prédio antigo que marcou tragicamente a vidas de muitos, hoje é destinado a uma economia criativa que ganhou o mundo: as Biojoias.

 Hoje São José Liberto é uma referência de indústria criativa e turística de Belém do Pará, onde é possível ter o contato com a cultura,  riquezas minerais e vegetais do estado. Na criação de uma peça, vários profissionais são envolvidos, cada um com um papel fundamental. Historias diferentes, níveis sociais diferentes, mas todos  competentes e felizes com que fazem, tornando as biojoias um diferencial de beleza e criatividade.

Fica claro, que o espaço do São José Liberto teve um novo cenário. O que assombrava, com histórias tristes, hoje reluz, não apenas com as pedras espalhadas que enfeitam o ambiente, mas com as suas novas histórias de superação e amor profissional.

Conheça: http://www.saojoseliberto



Veja histórias de alguns profissionais da cadeia produtiva




sexta-feira, 16 de setembro de 2016

O encanto do Esporte

                                                     Resultado de imagem para olimpiadas e paraolimpiadas
Gosto das Olimpíadas. Gosto do esporte, como ressocialização, como quebra de rotinas  de crianças e adolescentes em situação de risco. São histórias lindas e encantadoras.  Superação.  A própria história  das Olimpíadas tem um forte significado. A minha crítica é ao futebol, a corrupção, ao patrocínio direcionado mais a esse esporte, aos salários enormes de alguns jogadores. E que particularmente acho um esporte sem graça de ver. Cansativoooo....

Enfim, parabéns ao Brasil, que vem crescendo há algum tempo em vários outros esportes.

Parabéns às empresas e projetos que investem nesses garotos que poderiam ter um futuro triste e agora estão brilhando, dando orgulho a nossa nação. Não assisti essa tão falada abertura, mas os elogios são muitos e não esperava menos de um país cheio de problemas, mas com uma garra de encher os olhos de lágrimas. É um sorriso inexplicável, uma alegria que é nossa característica, mesmo com tantos sofrimentos, com tantas crises políticas, econômicas....

Ahhh, Brasil! Como te amo, por tudo que és. Talveis,  o que nosso país precisa mesmo é de mais patriotismo, não apenas na copa do mundo (só quando o Brasil ganha) , mas de pessoas patriotas para lutar pelo Brasil. Lutar por mudança política, igualdade social e pelos direitos garantidos a todos. Olhar para todos e não apenas para seu próprio umbigo.



#rio2016

quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Ministério Público fala sobre os 10 anos da lei "Maria da Penha"

Todos os dias várias mulheres são ameaçadas, espancadas, xingadas, queimadas e muitas vezes até mortas por seus maridos, namorados, pais e irmãos. Há dez anos a lei Maria da Penha foi criada para punir autores de violência doméstica. No Pará, o Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, do Ministério Público do Pará é referência nacional no combate à violência doméstica e cumprimento da lei, que também possui uma boa interação com os demais órgãos que lutam contra esses tipos de violência.

Criada no dia 7 de agosto de 2006, a lei é considerada uma referência internacional no combate à violência contra a mulher. A promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher, Lucinery Resende, explica que desde de sua criação, a lei não sofreu mudanças, embora houvesse uma resistência de alguns, por considerarem uma lei inconstitucional, por ser exclusiva para mulheres “o STF já bateu o martelo e disse que era sim constitucional, então não existe mais esta discussão”, explicou a promotora.

Segundo Lucinery Resende, antes da lei Maria da Penha ser sancionada, era aplicada a lei conhecida como “Cesta Básica”. Quando uma mulher sofria violência ia para uma sala de audiência, onde era feito um acordo com o cidadão agressor, para que ele desse uma cesta básica para uma instituição, era dessa forma que se resolviam os problemas.

“Quando a lei Maria da Penha chegou veio bem claramente dizendo que não se aplica essa lei, que a punição deveria ser mais severa, infelizmente alguns juízes e promotores ainda aplicam, mas somos contra, pois o avanço é justamente esse, nada de acordos, se agrediu é crime e tem que ser punido, depois se trabalha para ele não voltar a delinquir”, realçou a promotora.

Após 10 anos de sua aprovação, a lei vem se consolidando uma vez que ela já foi amplamente divulgada. “Hoje uma certeza nós temos: todo mundo sabe o que é a Lei Maria da Penha, todo mundo já ouviu falar, dessa fase já passamos”, comentou a promotora Lucinery Resende. Para ela um dos fortes da Lei é a medida protetiva, que consiste em uma série de medidas para proteger as mulheres, como o afastamento do agressor do lar, exigência de pensão, suspensão do trabalho. “Mesmo que o agressor seja absolvido, pois em muitos casos a mulher perdoa e retira a denúncia, ela mesmo assim pode continuar com a medida protetiva. Essa medida veio com um papel muito importante”, ressaltou a promotora.
Além da agressão física 
A lei Maria da Penha abrange vários aspectos da violência contra às mulheres. Geralmente as pessoas tendem a associar a lei apenas à agressão física, porém existem outros tipos de crimes com suas respectivas punições.


Cada forma de violência recai em algum artigo da lei. A Maria da Penha trabalha punindo de forma mais severa os crimes que já existem no código penal de 1940. Em concordância com o que está no código, o juiz irá calcular a punição que será aplicada para cada caso, de acordo com o perfil do agressor e todos os elementos da causa.
“Nosso papel, como promotoria é convencer o juiz, pois o promotor não aplica pena, ele pede e convence o juiz a aplicar essas punições aos agressores. A cadeia, por exemplo, é uma punição que amedronta os agressores, mesmo quando são feitas apenas ameaças, acaba inibindo. Eu digo que o crime da violência contra a mulher é o crime dos covardes. São aqueles que batem nas mulheres enquanto elas estão desprotegidas. No geral eles se acovardam quando chega alguém mais forte que ele, ou quando pensa que pode ser preso”, lamentou Lucinery Resende.

Rede de Proteção: Integração é fundamental para o combate à violência

O Pará é modelo de integração entre os poderes, na luta contra a violência doméstica, que abriga em um único espaço todos os órgãos envolvidos na causa, antes de ser criada a Casa da Mulher Brasileira já existia o espaço Pro Paz-DEAM (Divisão Especializada no Atendimento à Mulher) que é uma casa onde a vítima chega e encontra tudo o que necessita.
Para garantir pronto atendimento, o espaço conta com agentes da Polícia Civil, para registrar boletins de ocorrência e instaurar inquéritos em 24 horas. O local também tem serviço pericial, com a realização de exames especializados e emissão de laudos para constatação de abuso sexual ou agressão física, além de serviços médicos e jurídicos, com a presença juízes, promotores e defensores.


De acordo com a promotora, o Pará é modelo neste sentido. “ O Pará é pioneiro em muitas medidas, principalmente na questão de integração e comprometimento dos órgãos. A nossa promotoria foi criada em 2007, meses depois do advento da lei. Então nós somos modelo, temos um trabalho muito bonito. E o principal disso tudo, nós temos pessoas comprometidas nos cargos”, comemorou a promotora.
“Nós temos essa rede de atendimentos. Rede onde tem todos os atores que precisamos no dia-a-dia. Uma rede de atendimento tem estar conversando, saber exatamente o que cada um está fazendo. Assim cada um faz um trabalho. Então hoje, aqui no Pará nós temos um poder judiciário, uma Defensoria Pública, um Ministério Público, um executivo que tem uma coordenadoria da mulher maravilhosa e tem o Propaz que agrega todos. Tudo isso chamamos de rede de atendimento. Todos têm que conversar ao mesmo tempo. Isto nós temos forte no nosso estado”, completou a promotora.

Dados ainda assustam

“A Lei Maria da Penha ainda é uma ‘menina’, essas conquistas de hoje estão suficientes pelo tempo em que existe a Lei, mas nós queremos mais, precisamos oferecer um trabalho mais integrado e eficiente para atender essas vítimas, pois dos 100% dos processos criminais da Capital, 30% se referem a caos de violência doméstica”, com esta frase a promotora Lucinery Resende reflete sobre os índices ainda bem altos de violência contra as mulheres.

Todos os Ministérios Públicos possuem um cadastro de casos que chegam nas promotorias. O cadastro é uma exigência da lei Maria da Penha, no artigo 26 consta a quantidade dos casos, além do perfil da vítima e do agressor (renda, escolaridade, raça, classe social, faixa etária etc.). O Pará se destaca, por ser pioneiro neste cadastro. “O Pará foi inclusive convidado, recentemente, a participar das discussões do Conselho Nacional do Ministério Público, que pretende ter um cadastro uniformizado, estamos contribuindo com este projeto piloto, em que foram escolhidos cinco estados, mais o Pará, todos referência na implementação do cadastro Nacional”, comemora a promotora.


Dados do Núcleo de Enfrentamento à Violência Contra a Mulher no MPPA, apontam um aumento no número de registros de violência este ano na capital em comparação ao mesmo período do ano passado. De janeiro a junho de 2015 foram registrados 1.697 casos de violência doméstica. Já este ano esse número saltou para 2.070 casos, ou seja, uma diferença de 373 casos. Para a promotora os índices estão altos por dois motivos: o primeiro é o fato das mulheres procurarem mais a polícia, o que acaba irritando ainda mais o agressor; e o segundo é o fato da lei ainda não inibir o homem violento. “Quando o homem tem a cultura machista arraigada nele, em sua criação, ele mata a mulher, até na frente das autoridades. Hoje existe o esclarecimento da mulher, o que é significativo, mas teremos anos de luta para mudar essa cultura”, explicou a promotora.

Afim de amenizar esses dados o Núcleo de Enfrentamento à Violência contra a Mulher vem criando projetos para fortalecer a luta e também vem se integrando com os demais órgãos. Para a promotora a palavra de ordem é a luta para conscientizar a sociedade sobre a cultura machista. “Hoje, fazemos palestras nas escolas públicas mas também precisamos chegar nas escolas privadas. E o que falta é muita educação para que os adolescentes não virem um agressor. A Lei Maria da Penha não tem que ter a leitura de que é uma lei apenas de proteção das mulheres. Não! É para proteger, equilibrar e construir uma família saudável”, conclui Lucinery Resende.

Texto: Michele Lobo
Fotos: Edyr Falcão

quinta-feira, 23 de junho de 2016

Trânsito Caótico em Belém : procura-se o culpado

"A única situação que você deve cuidar da vida dos outros, é no trânsito."(Cassal Brum)







Tempo perdido, estresse, cansaço, dor de cabeça, ansiedade e entre outros sintomas são comuns para a população que utiliza transporte público ou particular na metrópole paraense, atualmente. Todos os dias trabalhadores, estudantes enfrentam a mesma rotina. As horas que deveriam ser usadas para o descanso são usadas em um trânsito parado do dia a dia. Em uma época onde o tempo é muito precioso e contado, perder mais de uma hora parado não dar.

Segundo a psicóloga, Aline Menezes, a relação do trânsito com a saúde mental é muito forte. "Uma pessoa quando está dirigindo, já tende a ficar em um nível de alerta. O carro é visto como uma arma, então já é algo que gera uma elevação do nível de estresse, pelo fato das pessoas terem a possibilidade de atropelar alguém, ou cometer alguma infração. A pessoa já fica com um grau de alerta, seja pela autoproteção física, a proteção do seu veículo e pela proteção de terceiros. Quando o trânsito flui bem, esse estresse consegue ser bem controlado e ao sair do veículo volta ao estado basilar".  Quando há uma situação de um trânsito caótico e as pessoas atrasam seus compromissos, em que há um risco maior de bater o carro, e assim por diante aumenta a pressão arterial. Gera um nível de estresse que inclusive pode permanecer após a saída do veículo.


"A gente percebe uma condição patológica, então se uma pessoa que fica o tempo todo lidando com um trânsito caótico, pode gerar dano para o ambiente de trabalho, ambiente família, etc. O estresse fica por mais tempo, estão o cidadão vai ficar mais propício à agressividade, com atitudes mais impulsivas, entres outras atitudes que prejudiquem a si mesmo e aos que estão ao seu redor. Aos que já possuem uma doença como pressão alta ou baixa ou outras doenças o nível torna-se mais agravante, mas a pessoa que não possui alguma doença pode adquirir, pelo fato de ficarem várias horas em apenas uma posição que não é aconselhada, acaba possuindo problemas na coluna, dores musculares, má circulação do sangue. Então o trânsito caótico é prejudicial para saúde física e psicológica", afirma Aline Meneses.



De acordo com Stefani Freitas guarda municipal e administradora da HONDAC, que dar apoio aos órgãos de trânsito com AMUB e DETRAN, os principais culpados para o caos do trânsito foi a falta de visibilidade para o grande crescimento que Belém sofreu nos últimos anos. A frota de veículos aumentou absurdamente e Belém não estava preparada para este grande inchaço.   O governo ajudou bastante para o financiamento de carros e hoje qualquer trabalhador pode adquirir um veículo particular, porém o que o governo não disponibilizou foi a estrutura para receber este aumento de veículos.


 "A falta de conscientização dos motoristas e pedestres atrapalham de forma considerável o trânsito, junto com a falta de fiscalização. Leis mais severas e campanhas de conscientização melhorariam bastante. Se não houver um bom projeto para a metrópole daqui a alguns anos o trânsito para, pois cada vez mais a frota está aumentando e as vias congestionando. De acordo com os meus dados, Belém está com alguns seus projetos em andamento como o BRT, o alongamento da João Paulo II até a Alça Viária e o alongamento da Avenida Independência até Marituba, porém há muito a ser feito", informa Stefani Freitas  .


Saulo Gomes é motorista de ônibus e para ele  o trânsito ultimamente é imprevisível, pois em um dia pode demorar uma hora e em outro demorar mais. Antes se estipulava o tempo em que se saía de casa, hoje mesmo saindo duas horas adiantadas para ir a um lugar que se gastaria meia, ainda assim corre o risco de se atrasar para o seu compromisso, pois no transito de Belém tudo pode acontecer. Sua profissão é mais complicada ainda. Ele passa a maior parte do seu tempo dirigindo e enfrentando o congestionamento e o estresse do trânsito de Belém.

"Os acidentes estão acontecendo com mais frequência, o que piora a situação, e para quem tem responsabilidades a cumprir, a preocupação é bem maior. No caso do meu patrão, compromete bastante o seu serviço, nós dois somos prejudicados. Viver imprevisivelmente e com estresse hoje em dia virou rotina, e não acredito que um dia possa melhorar, pelo contrário, piorou de uns cinco anos pra cá, daqui a alguns anos acredito que a situação será bem pior", lamenta Saulo Gomes.
 
Não apenas Saulo mais uma boa parcela dos motoristas que possuem uma responsabilidade maior que é a atenção no transito, sofrem com a sua piora. O trânsito de Belém gera desconforto e indignação para toda a população Todos esperam dos órgãos responsáveis as possíveis soluções. Procuram-se então os culpados para este caos, procura-se o júri para esses culpados.

Raimundo Alves é vendedor de carros usados. Segundo ele a venda dos veículos diminuíram nos últimos dois anos. Ele acredita que deva ser pela facilidade que se tem hoje para comprar um carro novo. As pessoas estão dando prioridade na compra de carros novos e estão conseguindo bastante desconto. Atualmente o governo ajuda de uma forma significativa as compras de carros.

"Os preços dos carros estão diminuindo por conta dos novos estarem abaixando também, mesmo assim a preferência em financiar um carro novo é mais frequente. Acredito que a tendência é que os preços continuam a abaixar nos próximos anos”, relata Raimundo Alves.

 Levando em consideração o aumento da frota com o passar dos anos, a troca dos veículos particulares ao invés dos coletivos, a falta de estrutura, a falta de fiscalização, as impudências, etc. entende-se que há vários motivos pelo caos. Uns culpam mais um do que outro, em outros casos o culpado é apenas um e tira de si a responsabilidade, porém não basta culpar terceiros. Cada um possui uma responsabilidade como cidadão. Uns mais do que outros, porém a cidade que por sinal é a metrópole do Pará, merece uma atenção e cuidado de todos em qualquer grau de hierarquia, afinal já está na hora de aprender a viver em sociedade um ajudando o outro.

Não adianta culpar o governo, cada um deve fazer a sua parte de acordo com a sua função no trânsito, seja pedestre, seja ciclista, sejam motociclistas, seja motorista , seja os órgãos públicos, seja o a prefeitura ou governo do estado. Todos possuem uma responsabilidade social. 

Os culpados devem ser presos, na prisão chamadas 'educação'. Aos maus condutores fica responsabilidade de ter paciência e prudência para facilitar o trânsito; aos órgãos fiscalizadores e responsáveis do transito de Belém fica o compromisso de cumprir sua função, para que haja o cumprimento das regras e principalmente organização; e ao governo fica a estratégia para que cada dia possa resolver os problemas de Belém do Pará, que não são poucos e que nem podem ser resolvidos de uma hora para outra, porém essa estratégia servirá para melhorar a cidade, pois a mesma merece respeito e muita dedicação sendo ela o espelho das demais cidades do Pará. É claro que todos devem tomar consciência de que a tendência é sempre piorar, pois não devemos nos esquecer das estatísticas básicas. Como o crescimento da população e da frota de veículos, a questão a ser tratada é a adequação a esses fatos, como minimizar o problema.

No trânsito a mudança deve ser mútua. O governo trabalha e a população ajuda, para que cada ponto possa ser explorado para o aprimoramento e que com o tempo as pessoas possam se adequar com está cidade que está mudando, que está crescendo e que se torna cada vez mais urbana, infelizmente. Que junto com o crescimento venha o desenvolvimento e a dedicação recíproca, para que as próximas gerações não sofra mais do que esta.